Quando a sobrinha Marcela o convidou para dar uma simples corrida no Aterro do Flamengo, em julho de 2008, o niteroiense Cesar Alves da Silva, não poderia imaginar que hoje, 10 anos depois,
É...aquele mesmo que foi empurrado por um louco na reta de chegada, na Olimpiada de Atenas, em 2004, e acabou ficando com uma revoltante medalha de bronze.
E Vanderlei Cordeiro tem motivos de sobra para elogiar César. Depois daquela corridinha em meados de 2008, ele se " viciou " no esporte. Quatro meses depois estava disputando dezenas de provas.De Floripa a Maresias.
Em 2011 , o morador de Icaraí, já queria ultrapassar fronteiras e alcançar novas metas. A Maratona de Santiago, no Chile era uma oportunidade única e perfeita.
Mas ao fazer um exame foi diagnosticado com uma lesão no colo retal, depois confirmada como câncer. E logo em seguida surgiu outro bem mais letal : no pâncreas.
O mundo acabou para ele. Mas por pouco tempo. Sempre bem humorado, dono de uma energia super positiva, ele resolveu encarar a doença e não desistiu da Maratona no Chile. Mesmo fragilizado, trocou os dias ensolarados de Niterói, pelo frio de Santiago.
Disputou a prova e passou muito mal, a uns dez quilometros do fim da corrida.Parou,vomitou e foi atendido pela equipe médica da competição. Mas completar o percurso de 42 kms era um desafio e ele conseguiu cumprir.
Do Chile, retornou ao Brasil praticamente direto pra sala de operação. Tirou 80 por cento do pâncreas. Perdeu 14 kilos. A mãe, D. Marly, com quem mora até hoje junto com um irmão, rezava de joelhos para ele não morrer.
E ela estava certa em se apegar com Deus. Por ano, no Brasil, segundo a Organização Mundial de Saúde,145 mil pessoas recebem o mesmo diagnóstico e cerca de 139 mil morrem. Um indice de mortalidade de 95 por cento.
César passou a conviver com diabetes, e seis doses diarias de insulina. Fora os sete meses consecutivos de quimioterapia.
- Era um mal estar terrível, recorda o maratonista e triatleta.
Mas três meses depois da operação, mais forte e animado, César sentiu vontade de dar uma corridinha. De Icaraí ao Lido, em São Francisco.Conseguiu ir e voltar pra casa. "Foi um dia muito importante. Era como se tivesse voltado a viver ", revelou.
Voltou a viver e a correr. Passou a intensificar os treinos e em três mêses já disputava a Maratona da Ponte , em seguida participou da Meia Maratona de Punta Del Leste, no Uruguai e da de Búzios, marcada três dias depois de uma cansativa sessão de quimioterapia.
- Fui mal, sentindo dores , mas consegui completar a prova.
Aos 60 anos, César trabalha no mercado imobiliário e sempre consegue tempo para intensificar os treinos para provas de triatlon. Nada em Itacoatiara, corre em Icarai, São Francisco e Boa Viagem e está escolhendo uma bike, para passar a treinar ciclismo pedalando em estrada.
No final do ano passado César participou,com bom rendimento, do Triatlon de São Carlos, interior de São Paulo. Treina para repetir a performance na mesma prova em março próximo
- Me sinto privilegiado e feliz pelo esporte ter salvado minha vida. Agora quero viver o presente sem criar muitas expectativas.
O " Fenômeno " que humildemente acha o apelido exagerado, só tem uma preocupação com o futuro. Não o dele em si.Mas com o dos brasileiros.
" Espero que haja mais transparência em todos os setores pra vida melhorar ", revela César, que como poucos, sabe que além de transparência, precisamos também de esperança, força e fé.