Esta foto era tudo que muitos moradores de Icaraí não gostariam de ver. Ninguém, dos quase cem mil frequentadores do Beco Sem Saída, ao longo de seus 12 anos, queria aceitar a venda do restaurante mais movimentado do bairro, anunciada há 3 meses.
Mas chegou o dia. Na verdade, o final de semana do fechamento. As despedidas começaram na sexta, lotaram o espaço no sábado e neste domingo propiciaram até ao anoitecer, um clima de confraternização difícil de ver em encerramento de um serviço comercial, com direito a um verdadeiro carnaval.
- Vim da missa da Porciúncula, direto para o Beco comer uma pizza. Chamei minha filha mas ela não quiz vir. Fiquei sozinha e me diverti muito. Não ia perder a última noite do Beco de jeito nenhum, disse uma moradora da rua Joaquim Távora que preferiu não se identificar.
Foi um comparecimento em massa, da galera que sempre frequentou o restaurante. Por falar em massa - desculpem o trocadilho - quem consegue esquecer delas, servidas sempre quentinhas e no ponto.E o frango a passarinho e seus pedaços pra lá de generosos ?E o que dizer do gurjão de peixe ?Fora outras delícias.
- Aqui já teve domingo que servimos mais de 100 tábuas de carne, revela o garçon Carlos Gomes, 55 anos, há oito no Beco.
Se Carlos já sabe o que vai fazer daqui pra frente, " devo expandir meu negócio de venda de salgados ", a caixa Adriana Vieira de Souza de 28 anos, foi pega de surpresa:
- Estava há apenas 3 meses aqui. Ainda não sei o que fazer.
Um, do time de dez garçons do estabelecimento, Jefferson dos Santos, de 27 anos, desde 2013 servindo com bom humor e correção, prefere se manter otimista e aguardar o pagamento da indenização, para batalhar um novo emprego com tranquilidade.
" Já ganhei gorgeta aqui até em dólar.", se recorda saudoso.
O Beco Sem Saída fez parte do roteiro de 9 entre 10 turistas que visitam a cidade. O Analista de Sistemas Fernando Souza Incarnação, mora nos Estados Unidos há mais de 20 anos, mas sempre frequentou o Beco quando esteve visitando os amigos e familiares em Icaraí.
Neste sábado, fez questão de prestigiar o penúltimo dia de despedida, bebendo uma cerveja bem gelada e comendo um dos pratos preferidos dele, o peixe a milanesa com molho de camarão e purê de batatas. Ao lado do irmão Luiz Carlos, ele lamentou :
- Além da perda do point gastronômico, acho que com o Beco funcionando, o lugar fica mais movimentado e traz mais segurança para os moradores da rendondeza.
Se a venda para o Grupo Ocean Farma, gigante na Região Oceânica da cidade, é inevitável, ainda resta uma esperança. Ou um consolo.Um dos sócios do Beco, o empresário Claudio Serrão, que sempre contou com Mariano Neto, para tocar o negócio, revela outro em vista.
- No espaço da cozinha que não vai ser utilizado pela farmácia, e nem vendido, construiremos um barzinho. Um Bequinho.Traríamos a choperia para o barzinho.
Portanto, fica combinado assim. O Beco não acabou. Vai diminuir.Sua continuidade vai depender da fidelidade dos antigos frequentadores.E quem sabe, como na natureza, não vai ser perdido, apenas transformado. É torcer e " confiar " em Lavoisier.